Notícias

Setembro amarelo: algumas palavras sobre suicídio e prevenção

Por Claúdia Vicentini

 

O suicídio é um grave problema de saúde pública. Segundo relatório da Organização de Saúde (OMS, 2012), cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo, sendo a segunda principal causa de morte de jovens com idade entre 15 e 29 anos. O suicídio é responsável por uma morte a cada 40 segundos em todo mundo, especialmente, em países de baixa e média renda, como o Brasil. Segundo levantamento elaborado a partir dos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, em 2013, foram registrados 96 óbitos por suicídio em Goiânia, com taxa de 6,89 óbitos a cada 100 mil habitantes, superior a média nacional de 5,01.

O ato de tirar a própria vida não é somente individual como se imagina, mas também social, vez que os sujeitos são constituídos e afetados subjetivamente pelas relações que travam com os outros – familiares, amigos, parceiros, colegas de trabalho etc. – e também pelo contexto sociocultural em que vivem. Na sociedade contemporânea, o frenesi da vida nas grandes cidades, a falta de tempo, o trabalho incessante, precarizado e mal remunerado, as crises econômicas, a insegurança, a violência, o esvaziamento das relações sociais dão margem a toda sorte de sentimentos de angústia e desamparo, que somados a disposições subjetivas podem levar o sujeito a enxergar na morte a única saída para seu sofrimento.

Dessa maneira, não existe causa única que leve ao suicídio. Em geral, a passagem ao ato decorre de uma série de fatores que vão se acumulando na vida dos sujeitos, configurações familiares, sociais, laborais, biológicas, psicológicas, situacionais, etc. Os casos de suicídios são quase sempre precedidos por pedidos de ajuda e também por tentativas anteriores. Não há suicídio que não seja anunciado. Isso porque o ato de tirar a própria vida é ambivalente: a morte não é o que o suicida deseja, e sim sentida como meio de fuga a um intenso sofrimento percebido como insuportável. Na ausência de uma rede sólida de apoio e acolhimento ou uma escuta treinada, o indivíduo se sente desamparado e acaba por levar a cabo o que crê ser a única solução para seu sofrimento subjetivo. Essa ambivalência é também percebida pelos sinais verbais e comportamentais que buscam transmitir a outros que alguma coisa não vai bem.

Policiais militares e suicídio

Uma pesquisa realizada pela PMERJ (Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro) em parceria com a UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) aponta que o risco relativo de morte por suicídio entre policiais militares é 4 vezes maior que da população em geral, sendo os praças (sargentos, cabos e soldados) o grupo mais propenso ao ato.

A pesquisa identificou diversos fatores para o sofrimento psíquico que podem culminar na tentativa de suicídio ou no ato em si. Esses fatores incluem: rotina de agressões verbais e físicas (perseguições/amedrontamento, abuso de autoridade, xingamentos, insultos, humilhações); insatisfação com a PM, no que concerne a escala de trabalho, infraestrutura, treinamento, falta de reconhecimento profissional, falta de oportunidades de ascensão na carreira e desvalorização pela sociedade; indicadores de depressão variados e problemas de saúde física.

“Vemos uma interface de tensão entre o mundo do trabalho, onde o policial está sujeito a relações abusivas, e o mundo fora do trabalho, onde o policial doente reproduz relações violentas. Tudo isso num contexto em que o policial tem acesso a uma arma, o que facilita qualquer ato violento. Outros profissionais também têm problemas no trabalho. Mas não têm uma arma na cintura”, analisa Dayse Miranda, coordenadora da pesquisa e organizadora do livro “Por que os policiais se matam?”.

A pesquisa alerta ainda que muitas vezes há uma subnotificação do problema ao setor responsável da instituição militar por inúmeras razões. Entre elas, estão as questões socioculturais – o tabu em torno do fenômeno; a proteção ao familiar da vítima (a preservação do direito ao seguro de vida) e a existência de preconceito ao policial militar diagnosticado com problemas emocionais e psiquiátricos.

Prevenção

Primeiro, é preciso conhecer para prevenir. A Organização Mundial de Saúde (OMS) dispõe de um manual de prevenção ao suicídio, que pode acessado no link (http://www.who.int/mental_health/media/counsellors_portuguese.pdf?ua=1). Nesse manual há informações úteis sobre comportamentos suicidas, fatores de riscos, mitos comuns sobre comportamento suicida, orientações para conselheiros, links e referências úteis, entre outras coisas.

Como dito, o suicídio é também uma forma de comunicação, uma maneira de pedir ajuda. As pessoas que ceram o sujeito devem estar atentas às manifestações por palavras, comportamentos ou atos e tentar buscar junto a ele uma rede de apoio e acolhimento capaz de proporcionar alívio e direcionamento a sua vida.

Cláudia Vicentini – É psicanalista clínica e antropóloga – Autora do livro “Corpo fardado: hierarquia e adoecimento mental na policia militar goiana”, Goiânia: Ed: UFG, 2014.
Atualmente, desenvolve pesquisa de doutorado junto aos policiais militares envolvidos no acidente com o Césio-137.

Posts relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo